TERAPIA DE CASAL – RELAÇÃO AFETIVA E DOENÇAS CRÓNICAS
Pelo facto dos índices de sobrevida estarem a aumentar, o diagnóstico de doenças crónicas, representa, cada vez mais, uma sobrecarga emocional muitíssimo elevada para as populações, por serem patologias de longa duração que tendem a estar fortemente associadas a pensamentos de morte, sofrimento e dor. Sendo perfeitamente compreensível que os doentes crónicos, apresentem elevados índices de depressão e ansiedade, que condicionam bastante a sua qualidade de vida, afetam o prognóstico da doença e comprometem significativamente a sua relação conjugal.
Efetivamente, o impacto do diagnóstico de uma doença crónica grave pode destruir por completo a relação do casal, originando importantes desajustamentos comunicacionais, afetivos e sexuais que determinam a existência de uma deficiente adaptação à doença que poderá afetar a adesão terapêutica e a eficácia dos tratamentos realizados. Neste sentido, é extremamente importante que toda a população clínica esteja atenta aos desajustamentos relacionais destes pacientes, para que as suas consequências possam ser minimizadas através da realização de sessões de Psicoterapia de Casal.
Tendo como objetivos primordiais: melhorar os processos de comunicação, fomentar a partilha de emoções e afetos, reduzir os índices de ansiedade e depressão, desmistificar mitos e falsas crenças que estejam a condicionar a relação e promover uma dinâmica sexual ajustada a ambos os elementos, a Terapia de Casal, apresenta resultados extremamente positivos na esmagadora maioria dos doentes crónicos, promovendo a redescoberta de componentes relacionais há muito perdidas.
E tal acontece, porque na esmagadora maioria dos casos, o diagnóstico de uma doença crónica grave não constitui o verdadeiro fator causal do desajustamento relacional, funcionando apenas como um mero elemento catalisador que promove a expressão das dificuldades previamente existentes. Ou seja, quase sempre a patologia emergente apenas faz com que os problemas relacionais pré-existentes se tornem mais evidentes, subsistindo fortes indícios, que nos casais que possuem boas competências comunicacionais e afetivas, o diagnóstico de uma patologia crónica até pode contribuir para promover uma aproximação dos seus elementos que passam a funcionar como um só no combate a um inimigo comum.
Deste modo, é importante que a qualidade da relação conjugal comece a ser monitorizada o mais cedo possível, para que seja viável diagnosticar e encaminhar o maior número de situações disruptivas para as consultas de Terapia de Casal. Estas, para além de concederem à díade uma oportunidade de poder resolver divergências antigas e minimizar a subcarga emocional associada a medos de rejeição e abandono, proporcionam uma ocasião única para gerir adequadamente as perturbações da imagem corporal que possam vir a surgir como consequência de determinadas intervenções cirúrgicas e/ou tratamentos complementares, minorar sentimentos de culpa subsistentes e fomentar um relacionamento sexual salutar que esteja associado a uma forte componente afetiva.
Como tal, e partindo do princípio que o verdadeiro amor não reside na paixão, na atração ou no desejo, mas sim na obsessão doentia de cuidar do outro (Pablo Neruda), o diagnóstico de uma patologia crónica, constitui uma oportunidade singular para a efetuação de uma análise profunda da qualidade da relação existente, que na maior parte das vezes, tem potencial para readquirir dinâmicas e subtilezas há muito perdidas fruto de uma visão deturpada de prioridades vivenciais e da negação obstinada da nossa insignificância existencial que transforma a morte numa entidade abstrata e impessoal que não deve ser discutida para não inquietar os nossos traumas existenciais mais arcaicos.
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